Toda
criança possui suas particularidades, mas alguns sintomas são observados em
todas elas, como a dificuldade em ficar por um longo período de tempo em uma
mesma posição, realizando a mesma tarefa ou até mesmo dificuldade de
concentração em atividades que não as interessa. O cuidado a se tomar ao
analisar esses sintomas é em que ponto essas características se tornam
transtorno de défcit de atenção e hiperatividade (tdah).
Não
existe um marcador biológico que identifique o transtorno, apenas é possível
fazer o diagnóstico clínico, baseado em análise do cotidiano.
Os
principais sintomas são dificuldade em prestar atenção na aula, desinteresse
pelo que está sendo falado pelo adulto, falta de foco e concentração para
desempenhar a atividade proposta, sinais de ansiedade para falar, esquecimento
e dificuldade em manter-se sentado.
“O diagnóstico do TDAH é
feito por informações da rotina do paciente. Se são crianças, colhemos esses
dados com os pais e nas escolas. Baseado nessas informações, junto com o
questionário feito em consultório, descobrimos se existe ou não o transtorno."
( Dr. Marcelo Gomes,
neuropediatra e Diretor da Área Terapêutica da farmacêutica Novartis)
No
questionário, é preciso que os pacientes se encaixem em seis ou mais situações
de desatenção ou sintomas de hiperatividade descritos.
Para
o tratamento, além do acompanhamento psicológico, também é utilizada medicação
à base de metilfenidato. Esta substância química estimulante está presente na
fórmula da Ritalina e seu efeito dura 4 horas, também na Ritalina LA,
permanecendo por 6 horas e no Concerta, por 12 horas. Os estimulantes presentes
no medicamento aumentam a liberação de dopamina, auxiliando no controle da
hiperatividade. As crianças que são medicamentadas com estes devem realizar
exame de sangue a cada 6 meses, para verificar se não há restos da química no
sangue. Também são orientadas a não tomar o remédio nos finais de semana e
férias escolares. Os efeitos colaterais incluem insônia, enjoo e dores de
cabeça.
Contra
os problemas que busca atacar, a ritalina é eficiente e ajuda a controlar os
sintomas de quem possui TDAH.
“O medicamento foi feito
para ser usado por quem tem problemas de TDAH, não por qualquer pessoa que
queira ter concentração. E mesmo o paciente com transtorno, se apresentar
efeito colateral permanente, deve ter a medicação suspensão imediatamente”.
( Dr. Marcelo Gomes,
neuropediatra e Diretor da Área Terapêutica da farmacêutica Novartis)
Também
existe uma forma alternativa de lidar com o tdah, sendo que esta demanda muito
mais tempo e dedicação dos pais e da equipe que acompanha a criança.
Pedro
é um jovem de 9 anos, foi diagnosticado com tdah aos 7 anos. Em seu laudo neuropsicológico é
relatado como um jovem muito comunicativo, bem humorado, tendo crises de
agressividade frequentemente. É muito impaciente, tenta vencer pelo cansaço,
tem dificuldade de aguardar a vez, interrompe as pessoas, faz várias coisas ao
mesmo tempo e não pára nem para se
alimentar. Quase nunca cumpre regras e é preciso negociar para que ele cumpra as
tarefas. É impulsivo, irrita-se fácil e não consegue controlar suas explosões,
não assume os próprios erros, é desorganizado e tem dificuldades para
permanecer na mesma atividade por um período prolongado.
Suas
dificuldades são agravadas pelo problema de vista, pois Pedro é portador de
catarata congênita e tem sérias dificuldades para enxergar..
Recentemente,
em uma de suas crises de raiva, quebrou a garrafinha de uma colega, e quando
indagado sobre isso, respondeu que " a tia Neide disse que me deu um nervosão"
e mesmo sendo interrogado várias vezes, não diz o que pensa a respeito do caso.
Pedro
teve muita dificuldade em relação a aceitação da professora, e muitas delas
simplesmente se recusaram a tê-lo na sala de aula. A atual percorreu um longo
caminho para que fosse aceita por ele e ele pela turma. Ano passado ele
participou de uma intervenção junto com a pedagoga, a professora regente e uma
eventual, que juntamente com a mãe, trabalharam suas dificuldades e o alfabetizaram.
Hoje o Pedro lê, escreve e acompanha sua turma, embora com dificuldade. Isto
sem o uso da Ritalina, somente com o esforço em conjunto da escola e da
família.
TDAH
E FALSOS DIAGNÓSTICOS
Um
dos maiores problemas enfrentados pela
geração atual é a busca pela homogeneização dos comportamentos humanos, isto é,
a busca por um comportamento ideal, e que todos aqueles que diferem são
portadores de transtornos e devem ser tratados com medicamentos. Este é o
principal motivo dos diagnósticos errôneos, onde a criança é medicada onde o
necessário seria dá-la a palavra para abordar aquilo que a angustia.
Se a
criança não consegue acompanhar o conteúdo, ela dispersa tentando fugir do que
está sendo um sofrimento. Sendo assim, cabe a escola buscar novas práticas de
ensinar, questionar mais a dificuldade de aprendizagem do aluno e manter com
ele um diálogo que permita uma melhor interpretação daquele comportamento visto
como desajustado.
Lacan
traz em Notas Sobre a Criança a afirmação: "o sintoma da criança se acha
no lugar de responder o que há de sintomático na estrutura familiar". Sob
esse olhar, a psicanálise nos permite discutir se estes sintomas,
diagnosticados como tdah, não seriam fruto de um relacionamento mal estruturado
com os pais. Maryse Roy (2003) também afirma que "a agitação ocupa o lugar
da distância que não há entre a criança e a mãe." Trazendo a reflexão de
que o sintoma pode ser fruto de um "sufocamento materno", onde a mãe
busca no filho algo que a complete de forma demasiada, causando uma cobrança exagerada
sobre a criança, que não sabe lidar com aquilo.
Envolto
de toda a polêmica gerada em volta dos diagnósticos e medicação do tdah, o que
vale é a atenção que deve ser dedicada a criança com o sintoma, acompanhamento
psicológico e educacional são ótimas medidas a se tomar, levando em conta que o
uso da Ritalina pode causar dependência química. Todas as crianças possuem suas
especificidades e suas dificuldades, sendo que todas necessitam de um
acompanhamento individual e especializado para que um laudo de tdah não seja
errôneo, de forma a evitar de todas as formas possíveis uma medicalização
desnecessária.
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