quarta-feira, 8 de outubro de 2014

TDAH: sintomas, diagnóstico e tratamento

Toda criança possui suas particularidades, mas alguns sintomas são observados em todas elas, como a dificuldade em ficar por um longo período de tempo em uma mesma posição, realizando a mesma tarefa ou até mesmo dificuldade de concentração em atividades que não as interessa. O cuidado a se tomar ao analisar esses sintomas é em que ponto essas características se tornam transtorno de défcit de atenção e hiperatividade (tdah).
Não existe um marcador biológico que identifique o transtorno, apenas é possível fazer o diagnóstico clínico, baseado em análise do cotidiano.
Os principais sintomas são dificuldade em prestar atenção na aula, desinteresse pelo que está sendo falado pelo adulto, falta de foco e concentração para desempenhar a atividade proposta, sinais de ansiedade para falar, esquecimento e dificuldade em manter-se sentado.

“O diagnóstico do TDAH é feito por informações da rotina do paciente. Se são crianças, colhemos esses dados com os pais e nas escolas. Baseado nessas informações, junto com o questionário feito em consultório, descobrimos se existe ou não o transtorno."
( Dr. Marcelo Gomes, neuropediatra e Diretor da Área Terapêutica da farmacêutica Novartis)

No questionário, é preciso que os pacientes se encaixem em seis ou mais situações de desatenção ou sintomas de hiperatividade descritos.
Para o tratamento, além do acompanhamento psicológico, também é utilizada medicação à base de metilfenidato. Esta substância química estimulante está presente na fórmula da Ritalina e seu efeito dura 4 horas, também na Ritalina LA, permanecendo por 6 horas e no Concerta, por 12 horas. Os estimulantes presentes no medicamento aumentam a liberação de dopamina, auxiliando no controle da hiperatividade. As crianças que são medicamentadas com estes devem realizar exame de sangue a cada 6 meses, para verificar se não há restos da química no sangue. Também são orientadas a não tomar o remédio nos finais de semana e férias escolares. Os efeitos colaterais incluem insônia, enjoo e dores de cabeça.
Contra os problemas que busca atacar, a ritalina é eficiente e ajuda a controlar os sintomas de quem possui TDAH.
“O medicamento foi feito para ser usado por quem tem problemas de TDAH, não por qualquer pessoa que queira ter concentração. E mesmo o paciente com transtorno, se apresentar efeito colateral permanente, deve ter a medicação suspensão imediatamente”.
( Dr. Marcelo Gomes, neuropediatra e Diretor da Área Terapêutica da farmacêutica Novartis)

Também existe uma forma alternativa de lidar com o tdah, sendo que esta demanda muito mais tempo e dedicação dos pais e da equipe que acompanha a criança.
Pedro é um jovem de 9 anos, foi diagnosticado com tdah aos  7 anos. Em seu laudo neuropsicológico é relatado como um jovem muito comunicativo, bem humorado, tendo crises de agressividade frequentemente. É muito impaciente, tenta vencer pelo cansaço, tem dificuldade de aguardar a vez, interrompe as pessoas, faz várias coisas ao mesmo tempo  e não pára nem para se alimentar. Quase nunca cumpre regras e é preciso negociar para que ele cumpra as tarefas. É impulsivo, irrita-se fácil e não consegue controlar suas explosões, não assume os próprios erros, é desorganizado e tem dificuldades para permanecer na mesma atividade por um período prolongado.
Suas dificuldades são agravadas pelo problema de vista, pois Pedro é portador de catarata congênita e tem sérias dificuldades para enxergar..
Recentemente, em uma de suas crises de raiva, quebrou a garrafinha de uma colega, e quando indagado sobre isso, respondeu que " a tia Neide disse que me deu um nervosão" e mesmo sendo interrogado várias vezes, não diz o que pensa a respeito do caso.
Pedro teve muita dificuldade em relação a aceitação da professora, e muitas delas simplesmente se recusaram a tê-lo na sala de aula. A atual percorreu um longo caminho para que fosse aceita por ele e ele pela turma. Ano passado ele participou de uma intervenção junto com a pedagoga, a professora regente e uma eventual, que juntamente com a mãe, trabalharam suas dificuldades e o alfabetizaram. Hoje o Pedro lê, escreve e acompanha sua turma, embora com dificuldade. Isto sem o uso da Ritalina, somente com o esforço em conjunto da escola e da família.

TDAH E FALSOS DIAGNÓSTICOS

Um dos maiores problemas enfrentados  pela geração atual é a busca pela homogeneização dos comportamentos humanos, isto é, a busca por um comportamento ideal, e que todos aqueles que diferem são portadores de transtornos e devem ser tratados com medicamentos. Este é o principal motivo dos diagnósticos errôneos, onde a criança é medicada onde o necessário seria dá-la a palavra para abordar aquilo que a angustia.
Se a criança não consegue acompanhar o conteúdo, ela dispersa tentando fugir do que está sendo um sofrimento. Sendo assim, cabe a escola buscar novas práticas de ensinar, questionar mais a dificuldade de aprendizagem do aluno e manter com ele um diálogo que permita uma melhor interpretação daquele comportamento visto como desajustado.
Lacan traz em Notas Sobre a Criança a afirmação: "o sintoma da criança se acha no lugar de responder o que há de sintomático na estrutura familiar". Sob esse olhar, a psicanálise nos permite discutir se estes sintomas, diagnosticados como tdah, não seriam fruto de um relacionamento mal estruturado com os pais. Maryse Roy (2003) também afirma que "a agitação ocupa o lugar da distância que não há entre a criança e a mãe." Trazendo a reflexão de que o sintoma pode ser fruto de um "sufocamento materno", onde a mãe busca no filho algo que a complete de forma demasiada, causando uma cobrança exagerada sobre a criança, que não sabe lidar com aquilo.

Envolto de toda a polêmica gerada em volta dos diagnósticos e medicação do tdah, o que vale é a atenção que deve ser dedicada a criança com o sintoma, acompanhamento psicológico e educacional são ótimas medidas a se tomar, levando em conta que o uso da Ritalina pode causar dependência química. Todas as crianças possuem suas especificidades e suas dificuldades, sendo que todas necessitam de um acompanhamento individual e especializado para que um laudo de tdah não seja errôneo, de forma a evitar de todas as formas possíveis uma medicalização desnecessária.

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