Nesta parte vamos
abordar como se construiu a identificação e a avaliação pedagógica dos livros
didáticos que tinham por objetivo contribuir para o conhecimento dos povos
indígenas sejam na Alfabetização, Língua Portuguesa, Matemática, Ciências,
História, Geografia e o Dicionário da Língua Portuguesa.
De acordo com estudos
de pesquisas anteriores, estes livros traziam em seu corpo o conceito das
sociedades indígenas como pessoas ultrapassadas, como uma lenda, maquiando a
quantidades de povos existentes no território brasileiro, atribuindo aos índios
um tratamento estereotipado, ao contrário de grande parte das produções de
conhecimento da etnologia indígena contemporânea.
As discussões tratam
da análise dos livros didáticos atuais e como estes se mostraram influentes no
tratamento aos povos indígenas no que diz respeito a educação destas
sociedades, e como pontuavam as questões relativas a diversidade cultural.
Estas discussões têm
também um caráter internacional, visto a importância da temática da educação
indígena na educação, tendo lugar nas legislações internacionais, o OIT (
Organização Internacional de Trabalho), que adotou em uma convenção de numero
169, sobre os povos indígenas e tribais em 27/06/1989, uma exigência que:
Deverão ser
adotadas medidas de caráter educativo em todos os setores da comunidade
nacional, e especialmente naqueles que estejam em contato mais direto com os
povos interessados, com o objetivo de se eliminar os preconceitos que poderiam
ter com relação a esses povos. Para esse fim, deverão ser realizados esforços
para assegurar que os livros de História e demais materiais didáticos ofereçam
uma descrição equitativa, exata e instrutiva das sociedades e culturas dos
povos interessados. ( BRASIL apud GOBBI,
2003, p. 224).
Desta forma
contribuindo com as investigações dos programas voltados à educação, fazendo
com que o Estado cumpra com o que é
definido pelas leis nacionais e internacionais, assim reforçando a importância
da emergência de movimentos que buscavam reconhecimento da diversidade cultural
e suas conquistas sociais, culturais e econômicas.
O que observamos é
que o Brasil tinham sérias dificuldades de reconhecimento de uma diversidade,
pluricultural e multiétnico, sendo de importância fundamental o papel da escola
no reconhecimento deste, ou de reprodutora de preconceitos e estereótipos já
enraizados no imaginário social, sendo assim palco de debates para tais
questões. De acordo com Gobbi apud
Gusmão (p.225) a uma grande preocupação em estabelecer uma educação voltada
para o respeito à diversidade, com intuito de assumir um papel de agente
transformador, promovendo o conhecimento mútuo entre os diferentes.
Grandes conquistas
ocorreram com mudanças nas legislações educacionais brasileiras, principalmente
na forma de se tratar os conhecimentos dos povos indígenas nas escolas, sua
contextualização, consequências e desafios.
Com a Constituição
Federal de 1988 algumas dessas mudanças
se deram no ensino fundamental, onde a utilização da língua portuguesa como
língua regular foi definida, mas
assegurava a comunidade indígena o direito de utilizar sua própria
língua materna nos processos de aprendizagem;
garantia o exercício dos direitos culturais e acesso as fontes de cultura
nacionais e apoiaria a difusão das
manifestações culturais; protegerá as manifestações das culturas
populares, indígenas e afro-brasileiras e o reconhecimento dos índios sua
organização social, costumes, crenças e tradições.
A LDB (BRASIL, 1996)
também contribuiu para tais processos exigindo
que as escolas e instituições de educação infantil deveriam trabalhar com questões relativas a
diversidade cultural. Sendo que art. 26 concerne aos currículos do ensino
fundamental e médio o dever de uma base nacional comum, sendo complementada com
características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e
clientela.
O Sistema de Ensino da União com colaboração
das agencias federais buscaria fomentar cultura e assistência aos índios,
desenvolvendo programas integrados de ensino e pesquisa, para ofertar educação
escolar bilíngue e intercultural aos povos indígenas, proporcionando aos índios
a busca da recuperação de suas memórias históricas reafirmando suas identidades
étnicas, valorizando suas línguas e por fim garantindo aos índios acesso a
todas as informações da sociedade nacional e demais sociedades indígenas.
Os Parâmetros
Curriculares Nacionais, PCNs também tiveram grande importância no processo de
resgate desta identidade, pois forneceu a sociedade indígena uma valorização
quanto a sua pluralidade cultural, dando à escola a oportunidade de contribuir
no combate ao preconceito e a discriminação no que tange a construção da
identidade indígena até então baseada no senso comum, e nas lendas apresentadas
pelos livros didáticos.
É preciso
explicitar sua ampla e variada diversidade, de forma a corrigir uma visão
deturpada que homogeneíza as sociedades indígenas como se fossem um único
grupo, pela justaposição aleatória de traços retirados de diversas etnias.
Nesse sentido, a valorização dos povos indígenas faz-se tanto pela via da
inclusão nos currículos de conteúdos que informem sobre a riqueza de suas
culturas e a influência delas sobre a sociedade como um todo, quanto pela
consolidação das escolas indígenas que destacam, nos termos da Constituição, a
pedagogia que lhes é própria. (BRASIL, 1997 apud
GOBBI, p. 227).
Portanto tal
preocupação se encontra também no Referencial Curricular Nacional para Educação
Infantil (GOBBI, apud BRASIL, p.
228), que reforça que tal pratica educativa também serve para promover e
ampliar condições necessárias para o exercício da cidadania da criança
brasileira. Dando condições para que estas crianças possam em suas formas mais
especificas pensar e compreender a realidade social e cultural a fim de
aprender a respeitar e conviver com a diversidade cultural nas suas mais
variadas manifestações.
De acordo com (GOBBI p. 229), as pesquisas
trataram de análises de livros didáticos que continham muitos deles equívocos e
conceitos que geraram constrangimentos e preconceitos quanto aos povos
indígenas, desde a colonização, escravidão e catequização, os modos de vida,
variedades linguísticas e culturais.
Como verificado no
texto grande parte dos livros didáticos concebiam aos indígenas pressupostos
evolucionistas e valores etnocêntricos, citando-os como pessoas do passado e
seus conhecimentos desvalorizados, muitos também se referiam aos indígenas como
povos primitivos causando assim depreciação dos seus valores, outros associavam
os índios a pré-história. Era muito comum utilizar o termo “descobrimento”
fazendo-se referencia a chegada dos portugueses ao Brasil, percebe-se assim o
tom evolucionista nas abordagens dos livros didáticos, pressumindo que a
evolução da história se passava por etapas.
Os índios que
viviam no Brasil quando os portugueses desembarcaram, em 1500, eram muito
primitivos. Ainda estavam na Era da Pedra Lascada, isto é, não sabiam fazer
ferramentas de ferro ou de outros metais. Eles influenciaram na língua, na
alimentação e nos nomes de localidades e acidentes geográficos. (GOBBI apud
SILVEIRA, p. 231).
De acordo com
LEVI-STRAUS é preciso atentar para o fato de que “as culturas humanas não
diferem entre si do mesmo modo, nem no mesmo plano”.
Para tratar certas
sociedades como “etapas” do desenvolvimento de outras, seria preciso admitir
que, enquanto para estas últimas acontecia alguma coisa, para as outras nada
acontecia – ou poucas coisas.
(LEVI-STRAUS,
1976, p. 330).
Estas comparações servem para mostrar quanto
os livros didáticos contribuíram ao longo do tempo para desvalorização da
cultura indígena em favor das culturas europeias, baseando-se no ponto de
vista do que os europeus tinham de
avanços materiais em relação aos povos indígenas.
Muitas outras contradições
foram disseminadas sobre os povos indígenas, e que foram repassados por livros
didáticos destinados a educação. Na colonização referiam-se aos índios que
habitavam o Brasil como um único povo, sendo que havia várias sociedades e
culturas diferentes, outro ponto é que apontavam os índios como povos passivos
ao processo de colonização e por fim eram apresentados os índios como os que
lutavam contra seu próprio povo ou os negros.
Os índios,
depois de integrados à sociedade colonial, funcionavam como capitães do mato na
perseguição de negros escravos fugidos e trabalhavam também na pecuária, uma
atividade que lembrava a caça para eles. (CARMO; COUTO, apud p. 235).
Estas contradições
mostraram a incapacidade de certos órgãos governamentais na aprovação de livros
que pudessem trazer formas preconceituosas e estereotipadas de se ver e
construir a sociedade indígena.
Autores
Carolina Aparecida
Carlos Renato
Geusa Nascimento
Autores
Carolina Aparecida
Carlos Renato
Geusa Nascimento
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