1.
Como a autonomia da criança é analisada nos estudos sobre infância?
Estudos dos últimos 20
anos afirmam que as crianças, através das relações com seus pares e com os
adultos, constroem, estruturam e sistematizam formas próprias de representação,
interpretação e de ação sobre o mundo.
2.
O que é cultura infantil? quais são seus espaços de produção?
As culturas infantis
podem ser vistas como construção coletiva que se faz através da ação social das
crianças frente ás estruturas sociais e institucionais em que estão inseridas.
É engajando-se ativamente nessas estruturas e no esforço de compreendê-las que
as crianças criam formas específicas de ação, reproduzindo, contornando ou até
transformando as estruturas
existentes.
James, Jenks e Prout
sugerem que talvez o que vimos chamando de culturas infantis exista apenas nos
espaços e tempos nos quais as crianças têm algum grau de poder e controle, como
parques, pátios na escola, nos grupos de rua, etc.
3.
Analise as contribuições de Corsaro, Sarmento e Delalande para análise da
cultura infantil.
Corsaro traz a noção de
Reprodução Interpretativa, proposto como substituto ao conceito de
socialização, enfatizando a a participação ativa das crianças nos seus mundos
sociais e culturais, não sendo apenas meros aprendizes, mas sim sujeitos ativos
das rotinas culturais, apropriando-se dos seus elementos e reinterpretando-os
Para Sarmento, o
desafio da sociologia da infância é compreender esse processo de reprodução
interpretativa. Segundo o autor, as culturas infantis estruturam-se em torno de
quatro eixos: a interatividade, a ludicidade, a fantasia do real e a reiteração
(possibilidade de transitar entre passado, presente e futuro através da
imaginação e do fazer coletivo)
Delalande apresenta uma
proposta de antropologia da infância. Em estudo etnográfico realizado em uma
escola francesa, encontrou evidências da existência de culturas construídas
através das brincadeiras realizadas em grupos que partilham um cotidiano. A
autora entende que o conceito de culturas infantis ajuda a enfatizar a
concepção da criança como ser que age sobre o mundo, desenvolvendo
coletivamente práticas sociais e culturais próprias. Atribui ao brincar uma
forma de ação social importante e nuclear para a construção das suas relações
sociais e das formas coletivas e individuais de interpretar o mundo.
4.
Quais os pressupostos teóricos, estratégias metodológicas da pesquisa da
autora?
A pesquisa foi de
caráter etnográfico, através de observação participante, de um grupo de
crianças de 4 a 6 anos de uma instituição pública, enquanto brincavam sem a
intervenção de um adulto. Foram utilizadas videogravações, audiogravações e
comentários em caderno de campo, além de entrevistas e conversas informais com as crianças.
A autora partiu do
pressuposto de que é importante que as crianças sejam sujeitos participantes da
pesquisa (CHRISTENSEN; POUT, 2002). Assim, os procedimentos adotados buscaram
instaurar uma forma de pesquisar com crianças, incluindo-as efetivamente como
informantes privilegiados, tanto na condução do estudo quanto na compreenção do
objeto estudado.
5.
Quais as estratégias de aproximação para participação da criança na
brincadeira? e as de resistência?
Uma estratégia
utilizada como primeira abordagem é a simples aproximação da criança no espaço
de uma brincadeira, para observar o que está ocorrendo, antes de uma estratégia
de acesso mais direta. Outra estratégia é desenvolver alguma ação semelhante á
brincadeira, mas não diretamente sincronizada aos outros participantes da ação
conjunta, mostrando assim o seu desejo de brincar junto e que sabe brincar com
elas. Outra estratégia é oferecer algum brinquedo ou objeto que contribua com a
brincadeira. Uma quarta estratégia é solicitar diretamente a participação:
" Posso brincar?". Esta quarta é mais comumente usada quando a
criança já tem um grau de intimidade com os demais participantes da
brincadeira. Para obter acesso, as crianças também podem sugerir uma ação,
através de declarações do tipo " aí ia ser a festa de aniversário da
Milena!", ou encenando alguma ação que se enquadra á brincadeira, sendo
esta a que possui maior nível de resistência, por se tratar de uma invasão da
criança na brincadeira, surpreendendo o grupo, não respeitando o poder de
decisão do grupo e ameaçando a brincadeira.
Já a resistência á
entrada de uma criança na brincadeira pode ser manifestada de várias formas,
por um gesto ou movimento ( empurrão, etc) expressão verbal sem justificativa
(não, você não pode), uso de argumentos relacionados ás relações de amizade (
eu não sou seu amigo), argumentos
relacionados á propriedade do espaço ou da brincadeira ( eu peguei primeiro),
uso de referência a regras ( só tinha duas princesas) ou argumentos
relacionados a autoridade do chefe, daquele que manda na brincadeira.
6.
Quais as conclusões da pesquisa?
As estratégias de
acesso das crianças ás brincadeiras é um processo complexo e regido por normas
e valores partilhados, e a base desse processo certamente são as experiências
vividas pela criança nos espaços familiares e escolares, mas principalmente no
contexto da criação conjunta de pares de valores comuns que as crianças
instituem sua própria ordem social. Não estão ausentes no grupo de pares as
diferenças de poder, prestígio e status social entre as crianças.
BORBA, Angela. Culturas da
infância nos espaços- tempos do brincar: estratégias de participação e
construção da ordem social em um grupo de crianças de 4 a 6 anos. In: Momento, Rio Grande, vol. 18, 2006/2007,
p. 35-50, 2006/2007..
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