sexta-feira, 26 de junho de 2015

ESTUDO DIRIGIDO: ESTRATÉGIAS DE PARTICIPAÇÃO E CONSTRUÇÃO DA ORDEM SOCIAL ENTRE CRIANÇAS PEQUENAS


1. Como a autonomia da criança  é analisada nos estudos sobre infância?
Estudos dos últimos 20 anos afirmam que as crianças, através das relações com seus pares e com os adultos, constroem, estruturam e sistematizam formas próprias de representação, interpretação e de ação sobre o mundo.

2. O que é cultura infantil? quais são seus espaços de produção?
As culturas infantis podem ser vistas como construção coletiva que se faz através da ação social das crianças frente ás estruturas sociais e institucionais em que estão inseridas. É engajando-se ativamente nessas estruturas e no esforço de compreendê-las que as crianças criam formas específicas de ação, reproduzindo, contornando ou até transformando as estruturas
existentes.
James, Jenks e Prout sugerem que talvez o que vimos chamando de culturas infantis exista apenas nos espaços e tempos nos quais as crianças têm algum grau de poder e controle, como parques, pátios na escola, nos grupos de rua, etc.

3. Analise as contribuições de Corsaro, Sarmento e  Delalande para análise da cultura infantil.
Corsaro traz a noção de Reprodução Interpretativa, proposto como substituto ao conceito de socialização, enfatizando a a participação ativa das crianças nos seus mundos sociais e culturais, não sendo apenas meros aprendizes, mas sim sujeitos ativos das rotinas culturais, apropriando-se dos seus elementos e reinterpretando-os
Para Sarmento, o desafio da sociologia da infância é compreender esse processo de reprodução interpretativa. Segundo o autor, as culturas infantis estruturam-se em torno de quatro eixos: a interatividade, a ludicidade, a fantasia do real e a reiteração (possibilidade de transitar entre passado, presente e futuro através da imaginação e do fazer coletivo)
Delalande apresenta uma proposta de antropologia da infância. Em estudo etnográfico realizado em uma escola francesa, encontrou evidências da existência de culturas construídas através das brincadeiras realizadas em grupos que partilham um cotidiano. A autora entende que o conceito de culturas infantis ajuda a enfatizar a concepção da criança como ser que age sobre o mundo, desenvolvendo coletivamente práticas sociais e culturais próprias. Atribui ao brincar uma forma de ação social importante e nuclear para a construção das suas relações sociais e das formas coletivas e individuais de interpretar o mundo.
4. Quais os pressupostos teóricos, estratégias metodológicas da pesquisa da autora?
A pesquisa foi de caráter etnográfico, através de observação participante, de um grupo de crianças de 4 a 6 anos de uma instituição pública, enquanto brincavam sem a intervenção de um adulto. Foram utilizadas videogravações, audiogravações e comentários em caderno de campo, além de entrevistas  e conversas informais com as crianças.
A autora partiu do pressuposto de que é importante que as crianças sejam sujeitos participantes da pesquisa (CHRISTENSEN; POUT, 2002). Assim, os procedimentos adotados buscaram instaurar uma forma de pesquisar com crianças, incluindo-as efetivamente como informantes privilegiados, tanto na condução do estudo quanto na compreenção do objeto estudado.

5. Quais as estratégias de  aproximação para participação da criança na  brincadeira? e as de resistência?
Uma estratégia utilizada como primeira abordagem é a simples aproximação da criança no espaço de uma brincadeira, para observar o que está ocorrendo, antes de uma estratégia de acesso mais direta. Outra estratégia é desenvolver alguma ação semelhante á brincadeira, mas não diretamente sincronizada aos outros participantes da ação conjunta, mostrando assim o seu desejo de brincar junto e que sabe brincar com elas. Outra estratégia é oferecer algum brinquedo ou objeto que contribua com a brincadeira. Uma quarta estratégia é solicitar diretamente a participação: " Posso brincar?". Esta quarta é mais comumente usada quando a criança já tem um grau de intimidade com os demais participantes da brincadeira. Para obter acesso, as crianças também podem sugerir uma ação, através de declarações do tipo " aí ia ser a festa de aniversário da Milena!", ou encenando alguma ação que se enquadra á brincadeira, sendo esta a que possui maior nível de resistência, por se tratar de uma invasão da criança na brincadeira, surpreendendo o grupo, não respeitando o poder de decisão do grupo e ameaçando a brincadeira.
Já a resistência á entrada de uma criança na brincadeira pode ser manifestada de várias formas, por um gesto ou movimento ( empurrão, etc) expressão verbal sem justificativa (não, você não pode), uso de argumentos relacionados ás relações de amizade ( eu não sou seu amigo),  argumentos relacionados á propriedade do espaço ou da brincadeira ( eu peguei primeiro), uso de referência a regras ( só tinha duas princesas) ou argumentos relacionados a autoridade do chefe, daquele que manda na brincadeira.

6. Quais  as conclusões da pesquisa?   
As estratégias de acesso das crianças ás brincadeiras é um processo complexo e regido por normas e valores partilhados, e a base desse processo certamente são as experiências vividas pela criança nos espaços familiares e escolares, mas principalmente no contexto da criação conjunta de pares de valores comuns que as crianças instituem sua própria ordem social. Não estão ausentes no grupo de pares as diferenças de poder, prestígio e status social entre as crianças.

BORBA, Angela. Culturas da infância nos espaços- tempos do brincar: estratégias de participação e construção da ordem social em um grupo de crianças de 4 a 6 anos.  In: Momento, Rio Grande, vol. 18, 2006/2007, p. 35-50,  2006/2007..

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