sexta-feira, 26 de junho de 2015

DIFERENTES INFÂNCIAS: INFÂNCIA EM ABRIGOS

INTRODUÇÃO:  APRESENTANDO O ABRIGO
O Lar Cristão de Belo Horizonte está localizado no bairro Braúnas/BH e possui um espaço bem elaborado para as crianças. Contém três casas bem equipadas denominadas Gênesis, Emanuel e Hosana, e cada uma possui capacidade para 15 crianças, sendo 5 bebês e 10crianças até seis anos e onze meses. Atualmente algumas crianças mais velhas ainda permanecem no local para evitar transtornos para as mesmas, e por já estarem em processo de adoção e/ou volta para a família original, isso não significa transtornos para a organização do local.
A estrutura das casas conta com camas separadas, armários bem divididos, lugares para as roupas individuais de cada uma das crianças, respeitando suas individualidades. Cada casa possui uma equipe coordenadora própria, uma cozinheira, duas cuidadoras e uma cuidadora apoio, sendo que as cuidadoras trabalham em plantão de 12h. O espaço também conta com uma ampla área livre, quadra, piscina, campo gramado, área de churrasqueira, e algumas árvores frutíferas. Possui também uma Capela, onde é realizado atividades  espirituais com as crianças, chamado de Momento Devocional.
A instituição é mantida pela Igreja de Cristo do Tennesse-EUA e pela Prefeitura de Belo Horizonte, além de doações e parcerias com  instituições não-governamentais. Cada criança recebe acompanhamento psicológico individual, cada caso é estudado e trabalhado com a criança e a família e os registros enviados para o Juiz responsável, que decidirá se podem ocorrer visitas dos familiares. A análise de cada criança é feita pela coordenadora da casa no momento da entrada desta, e nos próximos 15 dias é elaborado o plano individual de acompanhamento pelas técnicas.  Os relatórios de desenvolvimento da criança são mandados para o juiz a cada seis meses.
O abrigo também é adepto ao sistema de apadrinhamento, no qual uma família voluntária pode apadrinhar uma criança abrigada, visitá-la e levá-la em passeios, desde que estes sejam dentro de Belo Horizonte e sigam as regras pré-estabelecidas.

A rotina do abrigo visa se assemelhar ao máximo a rotina de uma casa comum, as crianças são encaminhadas para as escolas estaduais e as mais novas para as UMEIs. Serviços de  saúde são realizados pelo SUS, e as crianças são levadas até o posto, não sendo necessário a visita do médico ao abrigo, com o objetivo de não afastar as crianças do convívio social.


OBJETIVOS

Levando em consideração a definição de abrigo apresentada por Carvalho e defendida por Prada e Weber (2006) que abrigo é o nome dado a instituições que têm por objetivo acolher e proteger crianças em situação de risco pessoal e/ou social, ou seja, "violados ou ameaçados em seus direitos básicos, seja por ação ou omissão do Estado, pela falta, omissão ou abuso dos pais/responsáveis, ou em razão da própria conduta" (Carvalho 1993, p18), e considerando também a idéia de existência de diferentes infâncias,  este trabalho visa interpretar melhor como é a infância em abrigos, buscando, através de diálogos, desenhos e brincadeiras,compreender qual a visão da criança em relação ao ambiente em que vive e a rotina institucional margeada por regras presente em abrigos.

METODOLOGIA/ATIVIDADE DE INTERVENÇÃO

Afim de compreender melhor os pontos de vista infantis, iniciamos a visita conhecendo o espaço do abrigo e suas especificidades, como a estrutura física, equipamentos e brinquedos disponíveis, espaço das casas, funcionários, etc.
Logo após foi escolhida duas crianças, uma de 6 e outra de 8 anos, com as quais foi feita uma entrevista semi-estruturada, com perguntas que instigassem as crianças a refletir sobre o espaço que habitavam.
Durante a conversa foi lhes oferecido papel e lápis e solicitado que fizessem um desenho livre, que representasse aquilo que elas sentiam em relação ao abrigo.
Por fim, as crianças ficaram livres para brincar, surpreendendo-nos ao nos puxar para a brincadeira também.

CONCEITOS ABORDADOS

Quando foi solicitado a produção do desenho, consideramos a idéia defendida por Gobbi (2012) de que a prática do desenho também é uma prática social, sendo um suporte para representações sociais do mundo, onde se revelam as relações da criança com o mundo adulto, auxiliando-a a conhecer melhor aquilo que ela é, bem como saber mais sobre os pares e como se relacionar com estes. O desenho favorece a construção de significados sobre as relações sociais infantis e como a criança ordena o mundo, além de ser uma forma do adulto conhecer melhor a infância,  Através do desenho, "as culturas infantis emergem, dando-se a conhecer”.
Diante da história criada por uma das crianças, percebemos que ela utiliza da fantasia para aliviar a angústia vivida por ela. Como explica a teoria de Freud, a fantasia é um mecanismo defensivo que alivia a tensão, permitindo uma liberação ilusória da realidade não satisfeita, ou uma satisfação imaginária dos desejos, cuja satisfação real tenha sido proibida pela repressão. A fantasia é uma síntese integrada de idéias, sentimentos, interpretações e memória, predominando elementos instintivos e afetivos. Através da satisfação-substituta e omitindo a realidade, a fantasia pode ajudar a resolver os conflitos e prevenir a progressão da angústia.

RESULTADOS E CONCLUSÕES

Por mais que o abrigo tente parecer um lar, as crianças não se sentem em um lar, pois a saudade de casa e muito evidente, mesmo com as crianças que já estão há mais tempo por lá. Vimos que o trabalho realizado ali é de total transparência com as crianças, sempre dizendo a verdade de sua real situação e contexto. É admirável perceber que muitas crianças encaram sua situação com muita maturidade, e também usando o recurso da fantasia para aliviar a angústia de estarem ali sem seus pais. Vimos que a infância no abrigo é  muito diferente de uma infância em residência familiar, pois além de serem retiradas de seus pais por motivos de violência e abandono, o convívio social é muito raro e a socialização com o mundo externo é feita no momento que vão para escola, ou quando são levadas pelos seus padrinhos para passarem o final de semana. Sentimos falta de um profissional pedagogo no abrigo, mas vimos o esforço da realização  de algumas atividades pedagógicas.
A estrutura do abrigo e bem organizada, mas não se compara com o lar de uma família onde a criança venha se sentir amada e querida . Também concluímos que as questões judiciárias deveriam ser mais ágeis, pois estão analisando uma vida, afinal, quando mais tempo passam ali menos chances de serem adotados futuramente caso eles não venham retorna para seus pais.
A partir dos desenhos produzidos pelas crianças, percebemos as significativas influências de suas experiências pessoais,expressando seus sentimentos,uma na realidade e outra na ilusão. Os desenhos não representaram o lugar onde os pequenos vivem como solicitado, mas sim, o desejo de estar em um lugar que não era aquele.  Dois meninos com idades distintas deram seus significados aos desenhos, construindo e reconstruindo o seu meio de forma consciente de seus sonhos.



REFERÊNCIAS
PRADA,Cynthia Granja; WEBER, Lidia Natalia D.O Abrigo: Análise de Relatos de Crianças Vítimas de Violência Doméstica que Vivem em Instituições. Revista de Psicologia da UNESP, 5(1), 2006.
 GOBBI, Marcia.Desenhos e fotografias: marcas sociais de infâncias. Educ. rev. [online]. 2012, n.43, pp. 135-147. ISSN 0104-4060.  http://dx.doi.org/10.1590/S0104-40602012000100010.
http://www.portaldapsique.com.br/Dicionario/F.htm
Imagens 1 e 2: http://www.abrigolarcristao.org.br/
Imagens 3 e 4: Arquivo de Campo
Nadia Bueno
Camila Sanches
Dayanna Carolina
Carolina Aparecida

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