terça-feira, 14 de junho de 2016

A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO

Isabel Farias começa o capítulo IV de seu trabalho Didática e Docência: Aprendendo a Profissão relatando a resistência dos professores quanto ao planejamento no formato realizado pela escola, com resquícios do modelo imposto pela ditadura militar e depois pelo tecnicismo marcado pela globalização e neoliberalismo, que desvalorizou a carreira de professor e desfavoreceu as condições de trabalho, obrigando o docente a assumir mais de um turno de trabalho, sobrecarregando-o. Este modelo trata-se de planejamentos burocráticos, que acabam sendo engavetados. Todavia, esses professores reconhecem a importância do planejamento, e afirmam efetuá-lo em sala de aula, apenas são descontentes com o modelo que é obrigado a fazer na escola. Aguiar Jr diz que o ato de ensinar requer ação sistemática, organizada e intencional, pois temos o dever de introduzir os alunos na vida cultural da sociedade, e por isso, a importância de planejar.

Planejamento é ato, é uma atividade que projeta, organiza e sistematiza o fazer docente no que diz respeito aos fins, meios, forma e conteúdo.” (Farias 2014, p 106-107) Explanados os problemas enfrentados pelo modelo de planejamento adotado na maioria das escolas atualmente e os problemas que desmotivam os professores, Isabel Farias parte para a prática do planejamento e suas etapas.

O planejamento nos permite refletir sobre nossa prática e compreendê-la melhor. "...os planos de ensino potencializam a reflexão sobre a prática docente." (Aguiar Junior 2005, p3)

É no planejamento que definimos não só os conteúdos de acordo com o calendário escolar, mas também delimitamos questões importantes, como ' o que queremos que nossos alunos venham a fazer, a conhecer? Por que este conteúdo e não aquele? quais atividades? Com qual tempo e recursos contamos?' (Farias 2014, p 107) Aguiar Jr também delimita questões importantes a se pensar no processo de construção do planejamento,
"O que farei para romper a passividade dos meus alunos em sala de aula?; quais situações irei apresentar como problema inicial a motiva o estudo do tema?; como recuperar o que os alunos já sabem a respeito do tema ou outros conhecimentos a ele relacionados?; que recursos irei utilizar para tornar a aula mais interessante e motivadora?; que situações irei utilizar para introduzir as explicações ou narrativas da disciplina acerca do tema?; como irei favorecer o trabalho dos alunos com essas idéias?" (Aguiar Jr 2005, p 1).

Outra característica importante do planejamento, defendida por Farias, é a flexibilidade, sendo este aberto para avaliações e correções. Vale ressaltar também os dizeres de Aguiar Junior, afirmando que não é possível prever as reações dos alunos diante de uma situação de ensino, podendo uma aula seguir um rumo completamente diferente do planejado, sendo que isso não descarta a importância de planejar. Por isso, vale seguir o conceito de Morin, tomando o planejamento como uma estratégia e não um programa. É importante também a mobilização de toda a comunidade escolar, construindo-o de forma coletiva. Farias defende a idéia de um planejamento participativo e contextualizado com as necessidades da escola, dos professores e dos alunos, fazendo com que os membros da comunidade escolar se sintam reconhecidos, sendo que o sentimento de segurança é condição para a realização de um bom trabalho.

Farias mostra que é vital para o ato de planejar compreender que este não é um ato neutro. Nele o professor expressa seu poder de mudar os rumos do fazer pedagógico. “Ultrapassar o discurso do reconhecimento das mútuas relações ente planejamento educacional, institucional e de ensino nos parece fundamental para a construção de uma prática que possibilite a escola e aos seus professores atuarem com autonomia no delineamento de seu trabalho.” (Farias 2014, p 112-113)

A tarefa de planejar a ação docente envolve refletir sobe o para quê, o quê, como e com quê ensinar e sobre o resultado das ações empreendidas. As respostas a esses questionamentos traduzem os elementos constituintes dos planos, a saber: objetivos, conteúdos, metodologia, recursos didáticos e sistemática de avaliação.” ( Farias 2014, p 114)

Para Farias, os objetivos diz respeito ao destino, aos resultados e propósitos da ação, expressa idéias, valores e projetos do que deve ser o aluno como sujeito na sociedade. “Os objetivos são horizonte e alicerce, fundamento e guia da nossa prática.” ( Farias 2014, p 115)

Sobre os conteúdos, Farias expõe a necessidade de se repensar a forma de seleção, organização e trabalho dos saberes escolares. Devemos interrogar qual verdade é retratada nos conteúdos e se trazem respostas as necessidades e interesses dos alunos. Aguiar Junior aponta que o conteúdo que os estudantes aprendem nem sempre são os mesmos que se ensina, e que o aprendido é o resultado do diálogo entre o que já se sabia e a nova informação, reafirmando a necessidade apresentada anteriormente por Farias.

Ainda sobre a metodologia, Farias atenta para a necessidade de romper com a concepção tecnicista de aprendizagem, pautando o fazer pedagógico como ato contínuo e coletivo. Os recursos didáticos atuam como atores coadjuvantes, suportes á ação docente.

Por fim, Farias apresenta a avaliação da aprendizagem. Indaga a utilização da avaliação apenas como meio de classificação do aluno como apto ou não apto para a próxima etapa. Para ela, a avaliação deve ser feita durante todo o processo, como forma de avaliação se o planejamento está cumprindo seus objetivos, e deve ser abrangente, tomando o indivíduo como um todo. Aguiar Junior também defende que a avaliação deve ser feita durante todas as etapas do processo de ensino, complementando que o professor deve elaborar estratégias pedagógicas adequadas para cada etapa da sequência de ensino. Farias também apresenta ainda as anotações individuais em diário, discussões em grupo e autoavaliação e conselho de classe como outras possíveis formas de avaliação, a fim de avaliar não só o conhecimento acumulado, mas também a habilidade de processá-lo, construí-lo e utilizá-lo em situações reais de seu cotidiano, além de conviver em grupo, participar de discussões e se posicionar. Isto sem desconsiderar a avaliação escrita, que também se mostram eficazes para avaliar a capacidade de ordenação de idéias, argumentação, fazer relações, análise, compor síntese, etc.
Já em seu trabalho, Aguiar Junior delimita etapas para contribuir com a estruturação das atividades, sendo elas:
  • Sensibilização/ problematização inicial: Atividade que perturbe o equilíbrio cognitivo do estudante, fazendo-o criar interesse para o assunto que vai ser apresentado.

  • Desenvolvimento da narrativa do ensino: A partir da avaliação dos conhecimentos prévios da turma, definir as abordagens adequadas para tratar o assunto segundo seus objetivos.

  • Aplicação dos novos conhecimentos: Trata-se de uma atividade onde o aluno deve utilizar o conteúdo apresentado para solucionar um problema.

  • Reflexão sobre o que foi aprendido: Planejar uma atividade que permita comparar o estágio inicial da turma com o estágio final, promovendo uma tomada de consciência.

FARIAS, Isabel Maria Sabino de (et al).Planejamento da Prática Docente. IN: Didática e Docência: Aprendendo a Profissão. Brasília. Liber Livro, 2014.

AGUIAR-JUNIOR, O. G. de. O Planejamento do Ensino. Proposta de Desenvolvimento Profissional de Educadores. PDP. IN: Módulo II. Governo do Estado de Minas Gerais, 2005.


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