terça-feira, 14 de junho de 2016

COMO SUPERAR A ABORDAGEM GEOGRÁFICA EM CÍRCULOS CONCÊNTICOS

Em 1991, Santos identificou duas metodologias de ensino de geografia. A primeira é a abordagem sintética, que prevaleceu durante as décadas de 80 e 90 por se aproximar mais do construtivismo, se trata de apresentar o estudo da localidade como ponto de partida para o ensino da geografia e ampliar gradativamente as porções do espaço a serem estudadas. A segunda abordagem é a analítica, que parte da análise do distante e desconhecido para depois chegar ao lugar próximo, conhecido.

A abordagem sintética ainda é utilizada, apresentada como círculos concêntricos por Callai (2005), onde os professores iniciam apresentando para os alunos a família, partido para a escola, a rua, o bairro, a cidade, assim por diante. O erro dessa abordagem é justamente apresentar as porções do espaço em círculos fechados, não considerando as relações e influências que um exerce sobre o outro. Dessa forma, a dinamicidade do mundo e das relações humanas não são suportadas, e, embora o professor acredite está trabalhando a partir da realidade do aluno, está o afastando mais, apresentando um mundo divergente das tenções do real.

Parte do problema se dá pelo fato de grande parte dos professores optarem pelas metodologias com as quais foram alfabetizados, e parte por falhas na graduação da pedagogia, que dá pouco espaço para a discussão sobre as áreas do conhecimento, favorecendo para que continue perpetuando o uso de metodologias tradicionais em sala de aula.

Todavia, é necessário superar essa visão sintética da geografia, trabalhando com a totalidade-mundo ( Straforini 2002). A realidade evoca a idéia de totalidade, e torna-se impossível o estudo do mundo de forma linear. É preciso primeiro considerar as relações do bairro com a cidade, do estado com o bairro, do continente com o país, etc, e também a transição das pessoas por estes espaços.

Callai (2005) mostra que não só é possível trabalhar com a totalidade-mundo desde as séries iniciais do ensino fundamental, como também é possível fazê-lo de forma interdisciplinar, tornando as aulas um todo, e não mais disciplinas isoladas com maior ou menor grau de importância no planejamento. ‘O desafio é compreender o "eu" no mundo, considerando sua complexidade atual’ ( Callai 2005, p 230), sendo um dos caminhos ensinar as crianças a leitura do mundo a partir de sua própria relação com o ambiente, levando sempre em conta a complexidade das relações atuais. Para tal. Callai (cap III) afirma que nas séries iniciais a geografia deve ter objetivos semelhantes ao demais níveis de ensino, não se limitando ao concreto imediato da criança, que só faz a limitar e distorcer a visão do espaço geográfico.

Souza (1999) também defende que é impossível dissociar mundo de lugar. Assim, deve-se encontrar elementos globais no lugar de convivência da criança, e estabelecer relações do próximo com o distante.


É possível concluir que, mesmo com as inúmeras contribuições do construtivismo, uma leitura equivocada do mesmo pode tornar a geografia fragmentada e sem sentido. É preciso partir do conhecido do aluno, de seu meio de convivência, tornando-o ponto central do discurso e valorizando os elementos globais existentes neste para destrinchar o geral, sempre retornando ao particular e estabelecendo relações para que o aluno participe ativamente da construção do espaço geográfico.

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