Em
1991, Santos identificou duas metodologias de ensino de geografia. A
primeira é a abordagem sintética, que prevaleceu durante as décadas
de 80 e 90 por se aproximar mais do construtivismo, se trata de
apresentar o estudo da localidade como ponto de partida para o ensino
da geografia e ampliar gradativamente as porções do espaço a serem
estudadas. A segunda abordagem é a analítica, que parte da análise
do distante e desconhecido para depois chegar ao lugar próximo,
conhecido.
A
abordagem sintética ainda é utilizada, apresentada como círculos
concêntricos por Callai (2005), onde os professores iniciam
apresentando para os alunos a família, partido para a escola, a rua,
o bairro, a cidade, assim por diante. O erro dessa abordagem é
justamente apresentar as porções do espaço em círculos fechados,
não considerando as relações e influências que um exerce sobre o
outro. Dessa forma, a dinamicidade do mundo e das relações humanas
não são suportadas, e, embora o professor acredite está
trabalhando a partir da realidade do aluno, está o afastando mais,
apresentando um mundo divergente das tenções do real.
Parte
do problema se dá pelo fato de grande parte dos professores optarem
pelas metodologias com as quais foram alfabetizados, e parte por
falhas na graduação da pedagogia, que dá pouco espaço para a
discussão sobre as áreas do conhecimento, favorecendo para que
continue perpetuando o uso de metodologias tradicionais em sala de
aula.
Todavia,
é necessário superar essa visão sintética da geografia,
trabalhando com a totalidade-mundo ( Straforini 2002). A realidade
evoca a idéia de totalidade, e torna-se impossível o estudo do
mundo de forma linear. É preciso primeiro considerar as relações
do bairro com a cidade, do estado com o bairro, do continente com o
país, etc, e também a transição das pessoas por estes espaços.
Callai
(2005) mostra que não só é possível trabalhar com a
totalidade-mundo desde as séries iniciais do ensino fundamental,
como também é possível fazê-lo de forma interdisciplinar,
tornando as aulas um todo, e não mais disciplinas isoladas com maior
ou menor grau de importância no planejamento. ‘O desafio é
compreender o "eu" no mundo, considerando sua complexidade
atual’ ( Callai 2005, p 230), sendo um dos caminhos ensinar as
crianças a leitura do mundo a partir de sua própria relação com o
ambiente, levando sempre em conta a complexidade das relações
atuais. Para tal. Callai (cap III) afirma que nas séries iniciais a
geografia deve ter objetivos semelhantes ao demais níveis de ensino,
não se limitando ao concreto imediato da criança, que só faz a
limitar e distorcer a visão do espaço geográfico.
Souza
(1999) também defende que é impossível dissociar mundo de lugar.
Assim, deve-se encontrar elementos globais no lugar de convivência
da criança, e estabelecer relações do próximo com o distante.
É
possível concluir que, mesmo com as inúmeras contribuições do
construtivismo, uma leitura equivocada do mesmo pode tornar a
geografia fragmentada e sem sentido. É preciso partir do conhecido
do aluno, de seu meio de convivência, tornando-o ponto central do
discurso e valorizando os elementos globais existentes neste para
destrinchar o geral, sempre retornando ao particular e estabelecendo
relações para que o aluno participe ativamente da construção do
espaço geográfico.
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